Falta de segurança impede resgate de adolescente soterrada no Haiti
Soldados da ONU isolaram área do soterramento por conta da violência na região.
O resgate de uma adolescente soterrada em um edifício destruído pelo terremoto que devastou a capital haitiana, Porto Príncipe, foi suspenso nesta terça-feira pouco antes de ser concluído devido à falta de segurança para as equipes de resgate.
Segundo o bombeiro espanhol Francisco Pérez Rivas, que coordenava a equipe, soldados da Organização das Nações Unidas (ONU) ordenaram aos bombeiros que deixassem o local e a menina acabou abandonada.
"Fomos retirados à força", disse Rivas, emocionado, em entrevista ao canal estatal de TV espanhol RTVE.
A região onde a menina foi encontrada é chamada zona oito de Porto Príncipe e foi isolada devido aos incidentes de saque e violência nas ruas.
Perigo
De acordo com o bombeiro, sua equipe passou horas tentando salvar a vida da menina, que aparentava ter entre 12 e 14 anos.
Além de presa nos escombros, o corpo dela estava pressionado pelo peso do cadáver da própria mãe e faltava apenas um esforço final para retirar as pernas, já que ela já tinha sido liberada até a cintura.
Mas, segundo o bombeiro, os soldados da ONU que haviam isolado o bairro, obrigaram a equipe a sair da área por causa da violência e falta de segurança.
"Pedi ao comando da ONU com bandeira canadense que nos dessem meia hora para terminar o salvamento. Aceitaram, mas dois minutos depois nos obrigaram a sair".
"Um soldado disse que 'ou morre a menina ou morrem vocês'", contou Rivas, chefe da primeira equipe de resgate que desembarcou no Haiti depois do terremoto.
Queixa
O episódio desencadeou uma queixa do governador da província de Castilla La Mancha (de onde são os bombeiros enviados ao Haiti), José Maria Barreda, que entrou em contato com o Ministério de Relações Exteriores da Espanha.
Em entrevista à BBC Brasil, o governador disse que a queixa foi registrada para "expressar o mal-estar pelo incidente porque talvez as circunstâncias permitissem um final melhor, principalmente para a vítima do soterramento".
O gabinete, no entanto, admite "que os soldados das Nações Unidas estão em solo para garantir a segurança de todos e o governo agradece a proteção aos bombeiros. Só chama a atenção para forma de atuação em uma situação com estas características concretas".
Um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores disse à BBC Brasil que o bombeiro Francisco Rivas foi ouvido e "suas considerações levadas adiante".
Sem responder se a queixa foi ou será encaminhada aos comandos da ONU, ele afirmou ainda que "a situação é tensa e complexa em todos os setores de coordenação", por isso "há uma grande margem de incidentes que podem ser resolvidos de outras maneiras, mas nem sempre isso é possível de controlar".
Nova tentativa
O bombeiro disse também que tentou mais tarde voltar ao edifício para terminar o resgate, mas foi impedido de passar por conta do isolamento da área.
Apesar de tantos dias terem se passado desde o terremoto, Rivas acredita que ainda possam ser encontrados sobreviventes nos escombros.
Em entrevista à RTVE, o bombeiro afirmou que una das dificuldades é que o povo haitiano tem tantas necessidades que já não se preocupa com mais nada.
"Os haitianos não se importam se há gente viva debaixo dos escombros. O descontrole é total por tanto desespero. Aqui a vida humana não tem valor", afirmou.
A BBC Brasil procurou a assessoria de comunicação da Organização das Nações Unidas para ouvir seu posicionamento sobre o incidente, mas não houve retorno. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
Feito por: www..estadão.com.br/internacional
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,falta-de-seguranca-impede-resgate-de-adolescente-soterrada-no-haiti,498231,0.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário